Inspiração para a semana - O sonho de Wadjda

Na semana passada assisti ao primeiro filme produzido na Arábia Saudita. O Sonho de Wadjda é  um filme singelo que me chamou atenção por retratar sem violência e com muita propriedade a vida das mulheres comuns naquele país.

Wadjda é uma menina de 12 anos que sonha com uma bicicleta. Seu problema não é (apenas) a falta de dinheiro, mas o fato de bicicletas serem consideradas inapropriadas para mulheres. Ao acompanhá-la em seu caminho em busca da realização deste sonho nos defrontamos com mulheres que devem sair à rua completamente cobertas com mantos pretos, que não devem falar alto porque os homens não devem escutá-las, que passam três horas por dia dentro de um carro para ir trabalhar em outra cidade porque o marido não aceita que trabalhem em lugares frequentados por homens, que se casam aos 12 anos de idade... Nos deparamos com o pai de Wadjda, que apesar de amar a esposa, é pressionado pela família a casar-se pela segunda vez porque sua belíssima e dedicada esposa não lhe deu um filho (e sim um filha). Para aquela sociedade, não ter filhos homens significa não ter descendência.

Cena do filme O Sonho de Wadjda - foto divulgação

O interessante é que as casas, lojas e roupas (usadas dentro de casa) nos parecem bem familiares. A sala da casa da família tem sofás, televisão, videogame (com jogos violentos que a menina pode jogar!), exatamente como temos aqui. As diferenças ficam mais gritantes quando estamos do lado de fora e as mulheres devem tornar-se invisíveis com suas roupas pretas e cabelos cobertos. 

Este filme não é uma denúncia, é um filme relativamente leve e simples, mas não deixa de nos levar à reflexão: enquanto eu posso acordar e vestir o que eu quiser, decidir almoçar com quem eu quiser e ir ao cinema sozinha sem dar satisfação (ou pedir permissão) a ninguém, há mulheres que acordam neste mesmo dia e precisam ter cuidado com o que falam, o que vestem e até mesmo (e talvez principalmente) com o que sentem, pensam e desejam.

Nesta semana que comemoramos o dia das mães e, portanto, nos remetemos a mulheres fortes e exemplares em nossas vidas, penso também nessas mulheres que, à sua maneira, conseguem manter-se fortes e sonhadoras em um mundo estruturado para subjugá-las.

Veja o trailer abaixo e, se tiver oportunidade, assista ao filme!