31 março 2015

O que fazer na segunda à tarde

“Todo mundo aprendeu a abrir o e-mail no domingo à noite e adiantar o trabalho da semana, mas ninguém aprendeu a ir ao cinema na segunda à tarde”, diz o palestrante.

A maioria de nós cresceu vendo nossos pais trabalharem muito e por vezes seguimos nessa mesma espiral sem nem perceber (ou questionar). Quando demos por nós já estávamos lá, totalmente emaranhados na famosa falta de tempo. E mesmo quando se consegue gerir essa tal entidade, “o tempo”, de uma maneira mais equilibrada, a sensação de não estar sendo produtivo permanece. Cinema na segunda à tarde? Almoço com a amiga na quarta? Passeio no parque na quinta de manhã? Isso é coisa de quem não tem o que fazer!

Mas qual é mesmo o problema de não ter o que fazer?



Estar ocupado, correndo e “produtivo” tornou-se um valor intrínseco do nosso modo de vida. Ele é tão incrustado no nosso cotidiano que traz uma sensação de pertencimento. Não importa se trabalha fora ou não, se mora perto do trabalho ou não, se tem filhos ou não; ninguém tem tempo, nem para si, nem para o outro. E, se a pessoa não está nesta roda-vida, pode se sentir excluída, um pouquinho de fora do circuito da humanidade. Em alguns, gera até depressão! O desejo por tempo está no nosso imaginário, mas quando se torna real pode ser assustador em alguns níveis.

Criar tempo é um aprendizado. Usufruir dele é uma tarefa ainda maior. Consiste em questionar a normalidade de se estar fechado em um escritório enquanto o sol brilha lá fora, ou de comer um café da manhã em cinco minutos ou de estar preso no trânsito por duas horas todos os dias. Consiste em não ter medo de não pertencer a esse cenário, em ser exceção e ainda assim se sentir produtivo, criativo e pleno, mesmo optando por ir ao cinema na segunda à tarde.

E essa pode parecer conversa para alguns poucos felizardos que tem essa possibilidade de escolha, mas a verdade é que as escolhas estão diante de nós o tempo todo. E mesmo que eu tenha escolhido estar no escritório de segunda à sexta de 8h às 6h, ainda tenho poder sobre as 128 horas restantes da semana. Poder para fazer tudo ou nada! Poder para realizar sonhos para os quais certamente eu encontraria tempo se tivesse apenas seis meses de vida. Mas quem é que sabe se eu não tenho apenas seis meses de vida?

Escolho olhar o tempo como esse enorme aliado que me presenteia todos os dias com horas inteiramente minhas e que usufruo sem culpa ou constrangimento. E você?



A excelente palestra do Ricardo Semler (com legendas em português) você encontra aqui.


5 comentários:

  1. Ai Rosa Paula, nossa, seu texto é bem pertinente. Que situação complicada e confrontante. Às vezes, me sinto culpada, mas fato é que as coisas não dependem só da minha vontade. Ter tempo a nossa mercê é um sucesso mesmo, pois não somos ou estamos escravos de um sistema. Não deixamos de ser pessoas inteligentes e competentes pelo fato de podermos fazer escolhas e ter tempo. Eu me questionava muito quando trabalhava horrores e o dinheiro sempre curto, do mesmo jeito. Uma vida estressante, competitiva e pra quê? Realmente não posso reclamar. Talvez eu gostaria de poder equilibrar, mas já que as coisas não acontecem, sou muito agradecida dentro das minhas possibilidades e realidade. Não tenho do que reclamar, não! rs Ir ao cinema na segunda à tarde, ver um filme legal na televisão, sair para fazer uma visita...isso é bom, saudável. Não vamos complicar a vida, não é mesmo? rs

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  2. Adorei esse teu post! Eu estava justamente filosofando sobre isso...Como as pessoas hoje em dia seguem um padrão de pensamento e não se permitem fazer o que querem ou gostam?! Ou mesmo, se gostam de trabalhar tanto, não assumem, ou não assumem que trabalham muito porque não conseguem fazer outra coisa...como se permitir fazer o que nem todos estão fazendo?!?!
    Vou assistir essa palestra!
    Super bjo

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  3. Esse palestrante é muito bom, Rosa Paula.
    Sempre leio as coisas que ele escreve.
    Criar tempo é mesmo necessário se aprender.

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  4. Rosa, acho que na maioria das vezes é questão de organização. Eu me sinto super desorganizada em relação ao meu tempo. Muitas vezes até "sobra", mas não o organizo devidamente, e no final? Frustração por não ter mexido aqui e ali e com a sensação de não ter produzido.

    Acho que a falta de um caminho reto para tudo é a parte mais difícil do tempo...

    Um beijo grandão!

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  5. Passei a curtir meu tempo livre sem culpa.
    Também carregava a culpa da segunda pro trabalho, mesmo que fosse o de casa, de cuidar dos filhos e da casa porque 'segunda não é dia de descanso'.
    De algumas SEMANAS apenas pra cá, mudei isso.
    Até uma coincidência ler esse texto.
    Até porque trabalho apenas nos fins de semana, de quinta a domingo. E logo na minha folga ( que é bem interessante folgar quando a maioria trabalha) eu me culpo? Não tava certo, né?

    Beijo, Rosa! ;)

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