01 março 2016

Pare e respire #18 - limites

Sou da geração que foi ensinada a dar conta de tudo. Sozinha. Ponto. 
Uma geração que precisa(va) se provar o tempo inteiro. Neste mundo em que vivemos, particularmente no momento em que vivemos, praticamente nenhuma mulher foi ensinada sobre seus limites. Especialmente sobre respeitar seus limites. Mais especialmente ainda que impor seus limites é uma atitude de amor e respeito, não só consigo, mas também com o outro.  


Limite é uma palavra para qual não olhamos muito, a não ser quando chegamos lá, no limite. Enquanto isso não acontece, temos a tendência a ir deixando acontecer. Percebo que nos deixamos emaranhar por essa teia porque temos a tendência a evitar o que é difícil no momento. Por alguma razão é mais fácil dizer sim e depois carregar ressentimento, julgamento ou raiva por essa escolha. Achei fascinante ouvir a pesquisadora Brené Brown falar sobre o assunto e expor o mantra que criou para essas situações: escolha desconforto em vez de ressentimento. O desconforto de dizer não para o chefe, para a amiga, para o filho ou companheiro, paradoxalmente, revela-se uma mostra de nossa integridade e generosidade, porque estamos falando de um lugar real de sentimento e coragem. É como se estivéssemos dizendo: eu te amo o suficiente para ter essa conversa difícil com você em vez de empurrar para debaixo do tapete e fingir (por um tempo) que nada aconteceu. Eu tenho tanta consideração por você que não vou permitir que essa situação se transforme em uma história na minha cabeça que vai acabar em ressentimento, fofoca ou falar de você pelas costas.


Não, ninguém disse que é um caminho fácil. Estabelecer limites pode ser assustador, porque conversas difíceis são... difíceis. A primeira boa notícia é que, como a maioria das coisas que são inicialmente complexas, isso pode ser suavizado com a prática. Se estabelecemos como prioridade acolher nossos limites nos relacionamentos com amor e reverência ao outro acabamos por desenvolver uma habilidade para esse tipo de comunicação que nos parecia tão árdua. A segunda boa notícia é que normalmente as pessoas vão nos admirar e respeitar mais por isso, pois todas sabem que não é um processo simples que implica uma conexão de um nível mais profundo e verdadeiro.

Eu ando às voltas com essas ideias porque chega uma idade em que é preciso aprender a fazer coisas que evitamos a vida inteira. Principalmente para mim, que acredito que viemos todos a esse planeta para aprender e crescer, evitar não é (mais) uma opção. Então tenho buscado a escolha do desconforto. E posso afirmar de boca cheia que ela é muito, mas muito mesmo, desconfortável! Talvez por isso eu ainda esteja aqui tateando nesse percurso! Por outro lado é seguida por uma sensação libertadora que me fez até pensar no meu próprio mantra para as horas em que dá vontade de recuar: depois do desconforto vem a leveza. Apoiar essa ideia em um tripé de coragem e amorosidade tem me proporcionado momentos únicos e belos.

E você, como lida com seus limites?






8 comentários:

  1. Adorei o texto Rosa... =)
    Bjs e boa semana!!

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  2. Bom dia Rosa! Ao ler esse texto foi passando um filme na minha cabeça com uma situação nova!
    Uma amiga que se afastou e eu quis saber o motivo. A gente sabe quando uma pessoa próxima se afasta. Enfrentei com sinceridade perguntando o motivo. Ela disse que não era nada.
    No final: afastamento da amizade que parecia ser intensa.
    Voltando ao texto, hoje vou remoendo isso, principalmente pq encontro com a pessoa. Mas o primeiro passo foi dado, não quero dar mais por achar que "não mereço". Mas muitas vezes tenho vontade de saber o que aconteceu: que me aponte os defeitos, que me xingue, que fale que eu errei, mas precisaria passar o tal desconforto pra me aliviar (ou consertar um possível erro) de uma forma ou de outra no final.

    Eu tenho acreditado muito (a idade e as experiências nos amadurecem mesmo) que a sinceridade é a melhor das escolhas com tudo. Remoer as coisas pra satisfazer as pessoas não é felicidade. E quantas vezes fazemos isso.
    Hoje estou no lema que dependendo da importância do próximo em nossa vida, é melhor ser feliz sendo transparente e perdendo alguém, do que não ser feliz e viver com máscaras... Ufa..

    Obrigada! Beijos! :)

    Tê e Maria ♥

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  3. Nossa, pegou bem no meu momento.
    Desfiz uma amizade recentemente porque alguém passou do 'limite' comigo.
    Limite que eu não soube impor também. Ou seja, veio mais de mim do que dela.
    Esse limite aí de cima que só conhecemos quando chegamos nele, não conseguimos prever.
    De um tempo pra cá tempo falado 'não' para os outros e principalmente pra mim mesma. É libertador.

    Beijos!

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  4. Rosa,

    Nossa, colocar limites é mesmo complicado! Não só para pessoas que são da família ou com quem temos grandes amizades, mas também na área profissional (parece mais fácil por não haver um envolvimento emocional, mas não é).

    Tenho passado por algumas situações assim e não é fácil. Entretanto, já percebi que dá pra dizer "não" de uma maneira doce. Tive duas situações que me irritaram demais, mas consegui contorná-las sem deixar isso transparecer. Dizer o "não" sem aquela carga emocional tomar conta. Nossa, como foi bom! Minha posição foi aceita e, melhor que isso, sem que a situação se tornasse uma guerra.
    Ainda estou começando nisso e é verdade que é muuuito difícil controlar a carga emocional que a situação às vezes traz!

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  5. Ainda lido da forma errada, Rosa. Ainda não me limito a dizer não. Estou sempre me sobrecarregando e ultrapassando o meu limite para atender a tudo e a todos e ainda tentar fazer algo por mim. Mas, nessas férias, estou buscando essa reflexão também. Pois, só nesses momentos em que podemos nos distanciar de certas coisas, é que conseguimos ter uma percepção melhor sobre elas, e de como elas nos afetam.

    Adorei sua postagem, me LI nela. E acredito que está na hora de eu me sentir mais desconfortável do que ressentida. Porque tenho estado muito ressentida nos últimos tempos, e não quero ser assim.

    :**

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  6. Realmente é difícil. Se o desconforto é chato, aquele que é procurado por nós é pior ainda... Mas é pelo melhor :)

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  7. Ando a treinar...sair da(s) zona(s) de conforto e experimentar o desconforto, que no fundo é o que nos faz viver e não apenas sobreviver.

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  8. É, Rosa, ando precisando exercitar esse tipo de desconforto...Beijo!

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