A partir
do meio da tarde o sol invade a sala, adentra sem cerimônia, ofusca,
cobre tudo. Até porque aqui não há cortinas. Acho que sempre
preferi a verdade ofuscante à realidade filtrada. Dizem que em algum
tempo o sofá estará desbotado, o piso queimado, as cores do quadro
alteradas, mas eu não seria eu se não quisesse as marcas de que
aqui há vida, há luz que entra todos os dias, há energia e
movimento, além de, claro, dias cinzas. O sol vai tomando conta e
segue seu caminho natural todos os dias, sendo aquilo que é,
independente do que eu sou ou acho dele. Ele apenas existe em
essência e não posso deixar de notar que é isso que muitas vezes
não vemos em nós. A nossa existência, a forma como nos movemos no
mundo muda tudo ao nosso redor. É uma chama que existe apenas porque
nós existimos. Cada palavra, gesto, atitude transforma o mundo.
Mesmo insconscientemente, contribuímos para o equilíbrio (ou
desequilíbrio) de tudo que nos cerca. Mas estamos tão acostumados a
ser quem somos que o resultado das nossas ações parece ínfimo,
pequeno, inútil até.
O
interessante é que esse sentimento não é novo, não é próprio do
momento em que vivemos como muitos insistem em afirmar. Desde que a
humanidade conseguiu suprir suas necessidades básicas de
sobrevivência vivemos o dilema interno de reconhecimento. Nossos
dramas continuam os mesmos desde os tempos do Egito antigo até a era
informatizada de hoje. Todos, no fundo, buscamos validação para o
que somos: corremos atrás de dinheiro, beleza, poder, amigos,
parceiros, de sermos desejados, queridos ou até temidos sem
percebermos que o que somos é mais que suficiente. Não é preciso
validação, não é preciso reconhecimento, não é preciso ser
importante, basta ser. Entretanto, apesar da universalidade do
sentimento, o aprendizado desse desemaranhar-se do que não importa é
absolutamente pessoal. Alguns parecem alcançar essa percepção mais
rapidamente, mas nós, pobres mortais, geralmente levamos uma vida –
ou, pelo menos, metade dela – apenas para chegar à constatação
de que o que passamos tanto tempo buscando não vai preencher ou
solucionar nossas questões. A maturidade de nos apresentarmos ao
mundo de acordo com a nossa essência chega a dura penas, e, paradoxalmente, faz com que nos posicionemos frente aos outros de uma maneira única que gera - veja bem - validação e reconhecimento!
Bem, é o que dizem! Eu ainda estou no meio do caminho :)
É uma observação interessante.
ResponderExcluirÉ muito difícil se aceitar. A vida, a mídia nos vende uma busca por sucesso constante. Os 30 anos me deram um sentimento de 'dane-se o que estão pensando
de mim'e passei a me permitir um pouco.
Ainda há muito pra eu aprender mas até agora já tem sido tão libertador!! ♥
P.S. É sua sala de casa aí?
Achei interessante as cadeiras com essa função. =)
Oi, Pri! Essa foto é em um café que fica dentro de um teatro. Adoro a decoração de lá. Beijos
ExcluirRosa...amo a blogosfera. É assim que reafirmo o quanto me faz bem ter uma diversidade de blogs nos meus favoritos. Eu estou nessa frequência...ou estava. Buscando autoafirmação e algum reconhecimento e vindo aqui neste momento percebo que estar mais "introspectiva" com meus objetivos faz as pessoas enxergarem muito mais em mim do que antes.
ResponderExcluirAdorei ter vindo aqui e ler: não é preciso ser importante, basta ser. Agora está na minha frase do what's app (porque acredito que aquelas frases no perfil do aplicativo também sejam para ajudar pessoas).
Aliado a isso, recentemente um amigo me disse que as fotos que tenho colocado no face estão lindas! Eu agradeci e ele complementou "é porque elas mostram um pouco da sua essência". Como fiquei feliz com aquilo...
Obrigada por me presentear com essa linda reflexão. Acho que não cheguei nem na metade do caminho! Mas o importante é continuar!
:*
Oi Rosa,
ResponderExcluirAdorei o texto. Acho que me preocupa com os outros na medida certa, ou seja quase nada, ao menos exteriormente. Acho que o meu problema é ter que lidar com pessoas difíceis, desde que me conheço por gente, começando por minha mãe, e com ela sim, eu precisava de validação e reconhecimento.
Bjs
gosto-disto
Rosa é tão difícil viver, que até hoje não consegui entender.
ResponderExcluirPor ver tudo o que fizeram com minha mãe e ela morrer calada.
Fui sempre direta e franca, profissionalmente e com amigos, sempre me dei bem, mas no relacionamento amoleci e me dei mal.
Bela reflexão, feliz junho, abraços carinhosos
Maria Teresa
Lindo texto. É por vezes difícil simplesmente ser, principalmente quando deixamos de desempenhar certas funções dentro de uma sociedade. Como disseram acima, a sociedade, a mídia está jogando sempre alguma coisa na nossa cara, nos cobrando determinado sucesso, estilo de vida. Se não preenchemos o perfil, vamos ficando para trás. No entanto, em paradoxo, poder viver à parte e ser o que você poder ser de fato, também é libertador e nestas só está com a gente quem realmente nos preza em nossa totalidade. Isso sim, é satisfatório. Bjs
ResponderExcluirUm texto muito inspirado, como sempre! Acho que vais a mais de meio caminho. Do bom! :)
ResponderExcluirÉ, Rosa, também ando numa briga boa :)! beijo e tenha uma ótima semana
ResponderExcluirQue texto fantástico. ..buscamos tantas coisas nesta vida e esquecemos mesmo de sermos...sermos gente. Beijinhos
ResponderExcluirQue texto fantástico. ..buscamos tantas coisas nesta vida e esquecemos mesmo de sermos...sermos gente. Beijinhos
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