26 outubro 2016

Pare e respire #26 - influência

Recebi há alguns dias uma indicação de um podcast e, como sou louca por eles - são minha salvação na hora de tarefas como lavar a louça - fui direto para a página quando me deparo com o título: como conseguir tudo que você deseja. Eu sei que é preconceituoso da minha parte, mas simplesmente não consegui passar dali. Me pergunto como alguém do outro lado do mundo pode ter a mais remota ideia do que eu desejo e ainda me ensinar o caminho das pedras. Mas, por outro lado, consigo perceber claramente porque este título pode ter um apelo tão universal. Estamos aqui neste planeta o tempo todo em busca de significado e, nesta busca, em algum momento da nossa trajetória confundimos isso com influência e importância. Todos nós. Ponto. 
Por algum motivo - acredito mesmo que seja um motivo evolutivo, selecionado pela natureza - nós nos importamos muito com o nosso poder de influenciar pessoas. Nosso tempo congregou esse fenômeno na figura do "digital influencer" (que antigamente eram as estrelas de rock), aqueles que têm a vida que todos querem ter, que conhecem os lugares que todos gostariam de ir, que ganham de presente tudo que desejamos comprar. É o sonho da Cinderela moderna: ser paga para ter uma vida virtual de sonho e ser a nova guru do "como fazer amigos e influenciar pessoas". 


O ponto chave da última frase é a palavra "virtual". Uma vida virtual de sonho. E sim, por mais inalcançável que possa parecer, existem passos muito concretos que ensinam a ter essa tal vida, desde que se esteja disposto a pagar o preço, como em todas as escolhas que fazemos. O "único" aspecto que fica de fora dessa conta é a parte da vida que não é virtual. A parte do olho no olho, a parte da presença, do sorriso quando não tem câmera, a parte da conversa sem interesse outro que não seja ouvir; a parte do tédio, de abraçar o tédio, porque ele também faz parte da existência humana.
O que me intriga nesse modelo é que ele vende influência como se fosse algum produto exclusivo pelo qual precisamos batalhar, sob pena que continuarmos sendo reles mortais. E transforma em segredo a verdade mais simples de todas: todos nós já somos influentes. Todos nós. Ponto. 
A nossa existência, a nossa interação com os outros, tudo isso influencia as pessoas ao nosso redor. O que falamos, como falamos, o que desejamos, a quem desejamos, o que sonhamos, o que concretizamos, absolutamente tudo que somos e fazemos influencia o mundo. Quando percebermos isso como humanidade, talvez passemos a nos preocupar mais com nossas pequenas ações concretas e diárias do que com estratégias para alcançar o que já nos pertence, esquecendo o aqui agora no caminho. Talvez quando nos enxergarmos importantes o suficiente, passaremos a ter mais cuidado com nossas atitudes e expressões cotidianas, porque entenderemos seu poder. 







  

7 comentários:

  1. Que bom, que bom, que bom que você fez este texto.

    Eu tenho pensado muito neste assunto, sobre o sonho de tantas pessoas em serem estrelas do Instagram (ou YouTube), e como são seguidas e imitadas de um jeito que beira a obsessão.

    Será que ninguém percebe que o que essas pessoas postam são mero faz-de-conta? Que por trás de fotos que parecem super espontâneas e causais existe um enorme planejamento? E que grande parte desses ídolos são vazios, que não estão oferecendo nada mais que uma imagem?

    Certíssimo o que você disse: a gente já influencia os outros, sim. Só que numa escala menor, mais humana e, principalmente, mais REAL.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Oi Rosa,
    Adorei o texto e hoje se procuram fórmulas prontas para tudo.Sabia que o livro "Como fazer amigos e influenciar pessoas" é um dos mais vendidos no mundo até hoje. Por curiosidade comprei, e tudo o que ele diz é tão óbvio que nem sei pq tanto sucesso em vendas! Na verdade só ensina a ser educado, e ser educado é uma obrigação de todos. Mas isto tb daria um post...
    Bjs

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  4. Esse desejo de influenciar é cada vez maior, parece que estamos a evoluir nesse sentido. Não deixa de até ser um desejo puro e natural, mas aplicado a determinadas ações, pessoas e tecnologias e levado ao extremo esse desejo torna-se artificial e até perigoso...

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  5. Rosa, eu li seu texto há dias e não comentei...só agora percebi isso! Inclusive me lembro de ter pensado em como concordo com você.
    Não compreendo como influenciar pessoas virou um produto de mercado, até por que, influenciamos pessoas sempre.

    E quem "trabalha" com isso deve ter cuidado com o "como" faz isso. Até porque, qualquer pessoa pública influencia pessoas. O importante mesmo é nos vermos como pessoas que também influenciam o ambiente à nossa volta e tentarmos ser e fazer o nosso melhor, sempre.

    :*

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  6. Está tudo no virtual, ohhh céus, porque ninguém quer se dar ao trabalho de cultivar no real. Dá trabalho telefonar, visitar, escutar...mas só é assim que possuímos algo de verdade... e sim "Talvez quando nos enxergarmos importantes o suficiente, passaremos a ter mais cuidado com nossas atitudes e expressões cotidianas, porque entenderemos seu poder." As pessoas estão sem expressões, de delicadeza, de solidariedade...basta dar um "like" não é? Isso sim é puro tédio! Bjs

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  7. Acho que a busca por algum significado sempre existiu, mas realmente essa exposição absurda por vidas de fachadas, vendidas em livros e em redes sociais, é por demais desgastante. Do jeito que a humanidade caminha, só consigo me enxergar virando uma velhinha ermitoa...rs! Beijos

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