Olhar estrangeiro

Quando viajamos para um outro país, nos abastecemos de todas as diferenças existentes entre as culturas. O exótico vai se tornando familiar, abrindo nossos horizontes, possibilitando que o normal, o correto, o padrão a que tanto estávamos acostumados adquiram uma nova configuração.  O interessante é que o caminho inverso também pode ser feito. Ao acompanhar um estrangeiro em nosso próprio país ganhamos a possibilidade de (como dizia o antropólogo Roberto da Matta) transformar o familiar em exótico. Tudo que era natural passa a ser visto sobre um outro olhar! É como se nos permitíssemos enxergar nossa cultura pela primeira vez e observar o quão estranho alguns costumes corriqueiros podem parecer.

Ao apresentar o Brasil para uma canadense, pude me encantar com o suco de laranja e abacaxi, coisas que ela jamais havia provado in natura, pois todo suco por lá vem de uma caixa. Aliás, pude me encantar e agradecer por toda a riqueza de frutas e comidas do nosso país. Pude redescobrir o prazer de provar um pão de queijo no único país em que ele existe. Pude perceber nossa alegria como povo presente no simples ato de cantar parabéns batendo palmas, oferecer o primeiro pedaço de bolo a alguém especial e cumprimentar as pessoas com beijos. Pude me assustar com os flanelinhas e os ambulantes que ficam no sinal, pois uma canadense nunca tinha visto algo parecido. Pude me surpreender com uma catedral de traços únicos, com um palácio que parece flutuar e com um horizonte sem fim!

Enfim, pude vivenciar uma experiência tão rica e reveladora quanto estar em outro país. Foi a oportunidade de lançar um novo olhar sobre nós mesmos e perceber de uma nova maneira as belezas, contradições, fartura e desigualdade em que vivemos. Se tiver uma possibilidade parecida, não perca!

Tenha uma semana maravilhosa!