16 abril 2014

Pare e respire #9

Debaixo d'água tudo era mais bonito                                                                           
Mais azul, mais colorido
Só faltava respirar
Mas tinha que respirar
Todo dia

Tenho ouvido muito a música Debaixo d’água (de Arnaldo Antunes na voz inigualável de Maria Bethânia) em vídeos de partos que acompanho. A letra realmente casa perfeitamente com esse momento do nascimento, com um bebê que sai da barriga da mãe e vem respirar aqui nesse mundo. Ela me faz pensar no bebê no ventre da mãe, em perfeita harmonia, em condições ótimas de temperatura e pressão, crescendo e se nutrindo sem ter que passar por nenhuma necessidade. Me faz pensar que nenhum ser em sã consciência desejaria sair daquele conforto eterno para enfrentar o mundo aqui fora, mas é isso que acontece, e é o que precisa acontecer, pois a partir de um dado momento esse espaço já não será tão confortável assim, podendo até se tornar prejudicial.


Mas também me faz pensar na trajetória de todos nós, adultos que habitam esse planeta em que é preciso respirar. Todos nós tivemos nossa cota de decepções, frustrações e traumas em maior ou menos grau. E todos tivemos que nos adaptar, utilizar recursos que nos fizessem ultrapassar essas questões para que estivéssemos aqui hoje. Nos adaptamos e criamos ferramentas que serviram a essa adaptação. Parabéns! Essa é a história de um vencedor! O problema começa quando continuamos fazendo uso desses recursos quando já não precisamos deles. Já não é necessário se proteger, se fechar, parecer forte, mas é assim que continuamos a nos comportar como se essa fosse a única forma possível de sobreviver.

Fazemos isso porque essa situação traz conforto. Por mais difícil que seja, ela já é conhecida, familiar e nos dá segurança. A segurança do mundinho que criamos é maravilhosa. Lá é lindo, eu conheço tudo, eu criei tudo! Mas eu tenho que respirar. Todo dia. Se não fizer isso, meu mundinho lindo vai começar a me sufocar. Então, preciso dar espaço para o novo, olhar ao redor, encontrar pessoas, conhecer lugares, correr riscos... viver!



Mas a vida nesse planeta em que precisamos respirar não favorece nada disso. Ela nos diz que o normal é correr do trabalho para casa e de casa para o trabalho. Ela nos diz que natural é dedicar muito tempo a ganhar dinheiro e pouco tempo cuidando de nós mesmos. Ela nos diz que o usual é não ter mais tempo para os amigos após uma certa idade. Até o dia em que percebemos que nesse mundinho que funciona tão bem não conseguimos respirar.

Respirar pode ser corresponder ao sorriso de um estranho, criar oportunidade para um velho amigo se reaproximar, aprender uma língua “inútil” só porque foi nosso sonho de infância, aceitar aquele convite que talvez seja um programa de índio, mas que também pode se revelar uma fonte de encantamento, ouvir alguém com uma visão de vida diametralmente oposta à nossa, dar uma chance a um novo hábito, um novo estilo de vida, um novo modo de encarar as coisas. Não importa o que seja, basta apenas coragem para sair por um tempinho do nosso mundo azul e colorido e respirar. Todo dia.

Fotos: Alicia Bock

Um comentário:

  1. Oi seja Rosa, VIVER com toda intensidade da palavra, com todo seu sentido...

    Sobre as obrigações da vida, ontem minha diarista disse que na quinta-feira ficou na cama o dia inteiro. Pois estava frio, ela estava com preguicinha e teve tempo.

    Eu disse, isso mesmo! Quem falou que não podemos ter um tempo pra gente? Quem falou que a vida é só trabalhar. O nosso tempo e´a gente que faz e do jeito que a gente quer...

    E eu falo sempre Rosa, que seja do jeito que a gente gosta de viver, mas com honestidade, simpatia, amor, delicadeza, transparência...

    Que Assim Seja!

    Bethânia é ótima né?

    Um beijo querida!

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