15 dezembro 2015

Pare e respire #16 - Confiança

Segundo a pesquisadora Charles Folkman, confiar é escolher tornar vulnerável às ações de outro algo que é importante para você. Confiança. É engraçado como a gente imagina que ela é construída com grandes gestos, com coisas extremamente importante e significativas que os outros nos fazem (ou que fazemos a eles). Quando minha filha tinha cerca de dois anos fomos a uma piscina natural e ela estava toda feliz na água mas não queria que nós a segurássemos. Ela acreditava que aquele boiar delicioso acontecia naturalmente. Ela confiava que nada iria acontecer. Claro que nós não a soltamos, apesar de sua grande insistência. Mas esta cena me marcou, pois era um momento mágico, sem medo, sem malícia, completamente puro e inocente, de confiança total. É claro que confiar cegamente pode ter custos altos - no caso da minha filha, ela poderia ter se afogado. E talvez seja por isso que, estatisticamente, quando se estuda confiança, percebe-se que ela se desenvolve bem devagar, e não tem por base grandes atos, mas inúmeros gestos, em geral muito pequenos. Confiança é construída no detalhe. Quando eu me lembro de desejar boa sorte à amiga que vai fazer uma prova importante do mestrado, quando pergunto ao meu colega de trabalho como está indo a quimioterapia da mãe dele, quando eu atendo o telefone mesmo sabendo que aquela conversa vai ser penosa e cansativa, quando eu digo para o meu sócio olho no olho o que eu acho que não está funcionando, quando eu silencio diante de comentários pouco elogiosos em relação a alguém que conheço e milhões de outras mini-ações.



Essas ideias não vieram da minha cabecinha! Eles foram divulgados pela professora e pesquisadora Brené Brown, que estuda assuntos "simplesinhos" como vulnerabilidade e culpa (você pode assistir aqui em inglês sua palestra sobre confiança). Alguns pontos levantados nesta palestra foram surpreendentes e intrigantes. Segundo ela, dois eventos que aparecem nos dados repetidamente como fatores relevantes para a construção de uma relação confiável é comparecer a um funeral, ou seja, fazer-se presente no momento de tristeza e desconforto e, incrivelmente, a habilidade que o outro tem em PEDIR ajuda. Veja bem, não é a habilidade em oferecer ajuda, mas em pedir. É interessante porque, se refletirmos bem, a maioria de nós se disponibiliza a ajudar com uma certa facilidade e desenvoltura; já pedir ajuda é outra história! Para alguns é quase um tabu! Mas o que é pedir ajuda senão se colocar vulnerável frente ao outro? Em outras palavras, o que é pedir ajuda senão confiar? A pesquisadora destaca que se eu me coloco em uma posição de sempre ajudar mas nunca pedir, nunca receber, a verdade é que eu não estou participando efetivamente de uma relação de confiança. Dá o que pensar, não?



Outra questão que me chamou a atenção foi a relação entre confiança e autoconfiança. Quando algo difícil nos acontece geralmente há uma quebra da nossa autoconfiança. Dizemos: eu fui estúpida, eu fui ingênua, eu não posso confiar em mim mesma. Se a confiança está nas minúcias da nossa conexão com o outro, a autoconfiança está embasada no amor-próprio, no auto respeito. Parece óbvio, mas a verdade é: se não conseguimos confiar em nós mesmas, não podemos exigir que as pessoas nos deem aquilo que não temos. Então, se muitas vezes estamos tendo dificuldade em relações de confiança, a primeira coisa que devemos checar é como anda a nossa relação de autoconfiança. Brené Brown diz que é importante olhar para a forma como tratamos a nós mesmas, pois não podemos pedir às pessoas que nos deem algo que não acreditamos que somos dignas de receber. 

Em última instância, parece que a pesquisa confirma o velho ditado: ninguém pode dar aquilo que não tem. O que me leva de volta à minha filha pequenina na piscina e consigo perceber que sua confiança no mundo estava baseada na sua profunda confiança em si, naquela forma infinita, pura e sem hesitação que só as crianças podem ter, mas que nos ensina tanto. Guardo com carinho essa imagem singela de um bebê sorridente e rosado flutuando na piscina como um lembrete para confiar, especialmente confiar mais em mim!





8 comentários:

  1. Rosa,

    Fui dar uma olhadinha no vídeo para comentar, mas achei tão interessante que não consegui parar até o fim da apresentação! Rsrsrs...

    Falta ainda o último vídeo, dos exercícios, que vou assistir daqui a pouco.

    Mas ela expõe situações que, acho, todo mundo já viveu. Eu, pelo menos, fui me lembrando de muitas situações enquanto ela falava. Também já jurei que nunca mais confiaria e ninguém depois de alguns tombos... e confesso que isso me endureceu bastante. Mas não é legal, certo? No fim, fui encontrando um ponto de equilíbrio. Hoje tenho meus "marble jar friends" e faço questão de cuidar muito bem dessas pessoas!

    Obrigada pela dica!

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  2. Olá Rosa, interessante o que a professora e pesquisadora Brené Brown coloca como relevantes para a construção de uma relação confiável, são os mais difíceis para mim: não consigo encarar funeral e não sei pedir ajuda, sempre me preocupei com o próximo e me sinto desconfortável em pedir ajuda.
    Concordo quando fala que se não temos confiança em nós mesmos, como podemos inspirar confiança!
    Temos que voltar a ser criança, onde a naturalidade e a pureza nos fazem acreditar que somos capazes de viver, nadar, ou boiar, sem os medos dos nossos fracassos.
    Ótimo para refletir, obrigada, abraços carinhosos
    Maria Teresa

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  3. Nossa, quanta coisa aprendi com esse texto.
    Eu sou uma pessoa que vou colhendo e observando essas pequenas atitudes e palavras, e a partir delas formando a confiança...
    Mas se tudo for uma máscara, ela vai cair...
    Não me importo de errar, de confiar em pessoas erradas, porque vamos formando a confiança através daquilo que podemos ver e ouvir... Mas se nada for sincero e condizente, cairá por terra...
    E essa questão de pedir ajuda, é algo que faço com tranquilidade, se perceber obviamente que posso confiar, que não serei exposta negativamente...

    Funeral é um lugar de marcar presença mesmo, mas isso acho facilmente maquinado e manipulado por aqueles que também fazem ou desejam o mal do próximo...
    Tudo que é visível, pode ser visto, admirado, aplaudido, e bem falados por todos que veem, os hipócritas adoram fazer...

    Então, os funerais são locais de marcar presença de confiança sim, mas não pode ser determinante, porque eu mesma não me sinto tão bem com essas despedidas...
    Acho mais válido o que é feito em vida, do que presenciar uma partida dolorosa em funeral...

    Quantas pessoas não fazem seus teatros, justamente em funerais, para mostrar o quanto são bons, diante de tantas pessoas vulneráveis, mas por trás são falsas, mesquinhas e nada confiáveis...

    A pesquisa feita é bastante válida, mas não pode ser determinante diante do cenário que por trás pode ter inúmeras intenções...

    Amei seu post, e a cena mencionada com sua filha...
    Isso só mostra e afirma que minha atitude como mãe presente, é uma boa base de autoconfiança e confiança, que ajudamos as crianças a criarem...

    Bjs
    Ju

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  4. Que linda mensagem de aprendizado, Rosa!
    Realmente não podemos contribuir muito com coisas das quais não estamos munidos. Não há como passar autoconfiança se não a temos em nós. Realmente, as crianças são feitas de coragem, por esse desconhecimento do perigo e do risco que as coisas apresentam.

    Depois que crescemos adicionamos a sensatez e a cautela, aí a confiança vai ruindo aos poucos.

    Ótima lição. Adorei.

    :**

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  5. É uma definição bem engraçada para a confiança... Aliás, as definições de coisas mais abstratas no geral tende a ser 'surpreendente' ou pelo menos cativante e engraçada.
    A imagem da bebé está realmente muito apropriada... Até porque quem terá mais confiança nas coisas do que uma criança com pouca experiência e sem grande noção das coisas? Quem nunca caiu não tem medo de cair...

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  6. É muito complexo este assunto. Confiança, doação, atenção, ajuda, pedir e receber. No fundo está tudo entrelaçado. Mas o ditado que diz: "é melhor dar do que receber, ajudar do que ser ajudado". E o porém que "é dando que se recebe e é ajudando que se é ajudado". Eu acredito na lei do universo, nesta dinâmica, no mérito pessoal. É sempre bom refletir sim em nossas atitudes...inevitável não analisar o outro, mas se a gente se dá conta com as nossas próprias atitudes, já está de bom tamanho. Confiança e consciência! Bjs e um lindo Natal!

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  7. Olá Rosa! Gostei do seu texto... efectivamente, a confiança é baseada nos detalhes! Essa é a grande verdade! A alusão ao que vivenciou com a sua filha é a prova disso mesmo...
    Um beijinho, um bom ano de 2016!
    Manuela

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  8. Mas, é observando na convivência que se instala, se processa, essa confiança.

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